Verdade é uma descrição gramática ou matemática da realidade, ou de aspectos da realidade, que se conforma de maneira exata com todos os fatos verificáveis.
Assim, a espécie humana descobriu, em sua curta existência, inúmeras verdades, as quais se comprovam, por exemplo, pelo fato simples de podermos estar nos comunicando, de diversas partes do Mundo, através desta mídia eletrônica. Seguem outros exemplos de verdades:
1 + 1 = 2 logo a Raiz Quadrada de 4 = 2
A reprodução humana se dá pela união do espermatozóide com o óvulo.
A Agua é composta molecularmente por dois átomos de Hidrogênio e um de Oxigênio.
A malária pode ser curada com quinino. (Ainda bem, ou eu já teria morrido...)
E=MC2
Mas, como vimos acima, a Grande Verdade com V maiúsculo parece se referir a outra coisa, embora, na maior parte das vezes, as pessoas não saibam bem dizer ao que. Se esta verdade se refere à uma pergunta, que pergunta seria? Se não soubermos pelo menos isto com clareza, me parece improvável que se consiga a resposta, ou, pior, que se consiga reconhecê-la, se ela se apresentar.
Vamos então, a mais um exercício de clareza filosófica.
A pergunta sobre a Verdade se refere sempre, mesmo que em termos vagos, às questões sobre a origem e finalidade da vida. Assim:
A origem da vida é ou foi determinada por um fator teleológico? [Teleológico = que tem uma finalidade lógica]
Para a massa inculta, isso simplesmente que dizer: Deus existe?
Só existem duas respostas para essa questão:
a) Não. O quê significa que a vida não tem sentido e nem objetivo, além de ser vivida, e continuar a ser vivida.
Quais seus objetivos?
Percebam que aqui se apresenta uma séria dificuldade de se descobrir e definir a verdade, tal qual a consideramos no começo. Por quê? Porquê não temos como confrontar a nossa descrição com esse princípio teológico, para nos certificarmos da precisão da nossa verdade. Três tentativas foram feitas neste sentido:
Pela imaginação dos religiosos.
Pelo raciocínio dos filósofos.
Pela inspiração dos místicos.
A simples variedade e discordância entre eles mostra a dificuldade do tema. ? deste grande número de descrições incomprováveis que surgiu a nossa atual concepção relativista de que a verdade é variável, sendo que ninguém consegue explicar bem se essa variação se refere à incapacidade do sujeito (que acabamos de demonstrar) ou à mutabilidade do objeto (em cujo caso, seria possível afirmar a própria mutabilidade como um princípio imutável, paradoxo interessante que poucas pessoas conseguem apreciar).
Já há muito tempo que o Buda tentou cortar esse nó górdio, causa de frustração e mesmo depressão em certas pessoas. Ele indicou claramente que discussões sobre a origem do Mundo, da espécie humana, a existência da alma, a vida após a morte, nunca teriam uma resposta certa dentro do espaço curto da vida de um ser humano, e que, a partir disto, seria melhor que as deixassemos de lado, nos dedicando à meditação, atividade cujos frutos tornariam isso tudo sem importância.
O quê me parece claro, dentro deste tema, é que a necessidade de sabermos "A Verdade" sobre a vida em geral decorre da necessidade de sabermos "A Verdade" sobre nossas vidas individuais. Existe um sentido, um objetivo, para a Vida, e, por participação ou decorrência, para a nossa vida?
A crítica de Nietzsche à Metafísica (posterior à negação da Metafísica como fonte de verdade por Kant), parte da consideração de que a depressão do indivíduo diante da vida e do mundo não é resultado da sua incapacidade de ver o sentido (a Verdade), ou do fato de que pensa que este não existe. A depressão filosófica seria, na verdade, um sintoma de falta de saúde. Seguindo Nietzsche, diríamos que a pessoa saudável tende a encarar o desconhecimento do sentido ou a sua inexistência com a mesma alegria de viver.
Em um terceiro exercício filosófico, vamos levar o ceticismo à fronteira do solipsismo. Vamos tentar imaginar que, mesmo as verdades Físicas, Químicas, Matemáticas e Biológicas apresentadas acima, sejam apenas uma ilusão. Vamos ainda mais além, imaginemos que tudo que conhecemos, e de que nos lembramos, seja ilusão. Agora, fechem os olhos por alguns instantes.
Pode ser que a Internet seja sua imaginação. Pode ser que você mesma tenha criado este texto, de maneira inconsciente. Pode ser que você tenha sonhado toda a História, e inventado, sem saber, toda a Geografia e toda a Astronomia. Que tudo seja mentira, ou fantasia. A sua família, seus amigos, amores e desamores, apenas uma projeção em si mesma, feita por alguém que dorme, e sonha que acorda.
Já percebeu, então, a única verdade inquestionável que há?
Você existe.
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